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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

A lista
Neila Baldi 
Professora universitária

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Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava, hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você

CENSURA

Na ditadura, jornais publicavam poemas e receitas no espaço no qual deveriam estar matérias - que tinham sido censuradas. Era o modo de mostrar que algo estava errado. Oficialmente, vivemos em uma democracia, governada por militares. E a censura ocorre em vários momentos, inclusive quando um professor ou professora sofre sanções por suas posições políticas.

Ações arbitrárias e autoritárias daquela época voltaram. Os constantes ataques à autonomia universitária e o desrespeito às listas tríplices são um exemplo. #EleNão nomeia reitores ou reitoras alinhadas ao seu governo, sem respeito à decisão das comunidades acadêmicas. Oportunistas se aproveitam de brechas legais para desrespeitar a democracia interna e terem seus nomes incluídos na lista.

Nossas listas, como diz a canção de Oswaldo Montenegro reproduzida acima, mudam. Mas no topo da minha estarão sempre: democracia e justiça social. Por isso, penso na lista de 124 pessoas que escolherão quem está na lista tríplice para a reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Daqui a 10 anos, em que lista estarão esses conselheiros e conselheiras? Do lado certo da história, da defesa da democracia?

Quero estar na lista daqueles e daquelas que defenderam a democracia e que lutaram para mudar a legislação - que permite que pessoas menos votadas sejam nomeadas por estarem na lista tríplice - e fazer com que todos e todas da comunidade acadêmica tenham voz e voto. E não apenas na lista de 124 privilegiados e privilegiadas que podem escolher por quase 30 mil.

CPI da caverna 

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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Quando se está grávida, parece que todas as mulheres resolveram engravidar. Quando se está com o braço engessado, parece que todas as pessoas resolveram cair e se quebrar. Quando se tem uma determinada marca de carro, parece que aquela marca é a que mais se vê mais nas ruas. Ganhamos bebê e as grávidas somem, tiramos o gesso e os quebrados desaparecem, trocamos de carro e aquela marca de carro deixa de ser a mais comprada. Mas, na realidade, o que mudou? Nossa visão e foco. 

Somos tão egocêntricos, que o mundo parece girar ao nosso redor. Este aspecto, nestas situações, parece nada importante, pois o meu braço, o meu carro ou a minha gravidez não afeta o outro. Mas e quando o fato diz respeito ao nosso modo de pensar, aos nossos conceitos e ao nosso partido político? A resposta é: depende. 

Se você faz parte dos que possuem um coração que bate verde e amarelo, se você luta pelos bons costumes, você será taxado como louco, como aconteceu com o prisioneiro solto em "O Mito da Caverna de Platão". A obra narra a história de filósofos que estavam acostumados com as sombras da escuridão. São conformados, pois sombras e silhuetas, ou seja,meros esboços da realidade, era tudo o que sempre viram. 

No entanto, uma dia, um deles resolve fugir, e,ao sair da "caverna", descobre uma nova realidade, cheia de vida e cores. Nesta fuga, depara com o verdadeiro mundo novo, com tantas alegorias, vendo a luz e o reflexo do sol em todas as coisas. O habitante percebe, agora, que estas novidades são a realidade. Mas, para se sair da "caverna", temos que nos despir do egocentrismo. 

ACORRENTADOS

O personagem fica triste ao pensar nos irmãos que ainda permanecem na "caverna", reféns da ignorância, acorrentados na escuridão. Assim, decide retornar a fim de libertá-los das correntes que os prendiam à escravidão. Ledo engano acreditar que seria entendido, pois, ao voltar à "caverna" e ao contar as boas novas aos irmãos, relatando as novidades, é taxado como louco, ignóbil, genocida e fascista. Então, ele se cala, pois entende a limitação dos irmãos, já que possuem uma visão imperfeitas de uma pequena parcela da realidade. 

Se, por um acaso, Platão e Nelson Rodrigues estivessem na CPI desses prisioneiros, Platão diria que os graus de conhecimento entre os que estão na "caverna" e os que saíram, justifica a discussão. Já Nelson Rodrigues iria mais longe. Ele concordaria com Platão e diria: "Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos.".

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